quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Rastro de Sangue.

Cassia tinha 10 anos quando matou pela primeira vez.
E quem deveria ter sido a segunda pessoa mais importante de sua vida. Talvez.
E que ali, fora reduzida a nitrato de pó de bosta.
Apagou vestígios.
Sentimentos.
Sobrava ela.
Sempre.
E era assim que era.

Aos 11, cometeu o segundo maior assassinato de sua vida.
Aos 15, o terceiro.
E teceu carreira.

Nunca ninguém perguntou se ela queria aprender matar.
Só que... desde muito nova ela sabia que era a principal coisa que deveria aprender.

A Morte se apresentou muito cedo, quando ela ainda tinha medo de escuro.
Sorria pra ela, debaixo da cama, como cachorro louco.
Tinha dentes à mostra. 
Sempre escorrendo sangue.
Ela crescera com aquela imagem que a visitava todas as noites.
Parecia aterradora.
Mas não era.
Ainda se.

O Tempo passou.
A sede da Morte abrandou.
E aos 17, num colóquio de fidelidade, fizeram um trato.
Era hora de escolher dar lugar à Vida.
Apesar de.

A juventude lhe trazia novos ares.
Novas gentes.
Novas necessidades, provando que o passar dos dias é capaz de abrandar tudo.
Incluindo sede de sangue. Incluindo alimento... de Morte.

Se bem que...

... mas ali, no encalço, apesar de não olhar pra trás... a sobra e a sombra da Morte eram presentes, como a velá-la, como a usá-la feito hospedeira.
Irmã siamesa.
A Morte era um rastro.

No fundo, aquilo não abdicava do direito de estar.
E veladamente Cássia aceitava a Morte -uma Morte já anciã- como parte constante do todo.
De seu histórico.
Seria possível -inclusive- dizer que... dizer que Cássia tinha um certo prazer de ali constar, de dela fazer parte, de uma espécie de... Filha da Morte... ser.
Como quem controlasse Bem e Mal.

E assim fora no decorrer dos anos.
Aprendeu a controlar o Claro e o Escuro de si.

Hoje, já balzaca e dominando perfeitamente suas nuances, conhecia a Vida.
Dava crédito a ela.
Gostava, inclusive.
Não: mentira.
Amava!
Tirava da Vida todo o alimento de que precisava.
Supria com Vida sua sede de... sangue.
Amava a ponto de levar tudo à exaustão.
Levava todas as Vidas até quando não mais pudesse suportá-las.

Levava.
E levava justamente porque... sabia da sua natureza.

Ela...
... sabia que matava.
... sabia que fora eficientemente treinada para lancinar.
... sabia que... bastava um 'sim' para o 'nunca mais'.

Hoje ela comandava a sede.
Hoje ela escolhia a hora.
Hoje ela sabia apurar o carmim.
Hoje... 
... ela deitava sangue com punhal de prata e em taça de cristal.

E sorvia.
Mesmo que.










Nenhum comentário: