quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O 3 dos 30.

E hoje nós 3 vamos dormir chorando.

Tristeza?
Não propriamente.

A gente chora o Inevitável.
A gente chora o Aprendizado.
A gente chora a Liberdade.
A gente chora a Parceria.
A gente chora a Amizade.

Hoje a gente tá indo dormir como nunca fomos nestes 5 anos de amizade: de Almas Entrelaçadas.
É inacreditável como coisas que parecem "encontradas" na verdade "nos encontram".

Decidimos fazer uma tatuagem coletiva semana passada, na madrugada de terça pra quarta feira.
No sábado, já estávamos no estúdio.

No dia, eu escrevi um texto na nossa foto:

[Daí que Carolina foi estudar o símbolo que a gente escolheu por identificação visual: três folhas, três somos nós. E descobriu que uma das muitas simbologias do Trevo diz que uma folha significa Amor, a outra Esperança e a outra, Fé. Quando acontece uma quarta folha, Sorte. Daí o significado do Trevo de Quatro Folhas.
Pois bem.
Fez todo sentido do Mundo.
Carolina é a Fé em pessoa.
Giselle, o Amor. No mais doce grau.
E Esperança é uma definição em mim.
E de repente, entendi porque a gente consegue ser tão diferente e ainda assim, unidade. Amo. Muito.]

Hoje, Dia das Bruxas, eu olho pro meu pulso direito e vejo um Trevo Celta.
E que nos representa. E de repente. Assim. Sem ter sido chamado.

Carolina descobriu que Saint Patrick, patrono da Irlanda, utilizou a simbologia do "Shamrock" -'Planta Jovem de Três Folhas' em gaélico- pra explicar a Santíssima Trindade aos Celtas, num movimento de convencimento à crença cristã: Pai, Filho e Espírito Santo em formatos idênticos e presos a um único caule.

Planta. Nascimento.
Jovem. O quê somos, de fato.
Três folhas. A unidade.

Pros Celtas, o #3 tinha peso na simbologia: representava corpo, mente e espírito, na Tríade Sagrada.

Corpo. Amor.
Mente. Fé.
Espírito. Esperança.

Fui buscar mais informações sobre.

A astrologia diz que quem nasce sob o #3 ama a vida, as artes, as cores, a comunicação em geral e o Feng Shui diz que quem quer ser feliz, tem de morar numa casa #3: fatalmente será a mais festeira da rua! Pessoas, cores, sentimentos.
É isso o quê acontece sempre que a gente se junta. Desde sempre.

A gente se via bem menos... atribulações cotidianas, o compasso destoante do dia a dia, os compromissos, as urgências acadêmicas, os horários nem sempre concomitantes de trabalho.
Isso nos dificultava.

Até que... se faz 30. [Ou variações dentro destes... *risos*]
E tudo passa a ser relativizado dentro da gente.
Dentro do Feminino de Ser.

Horários a gente passa a adaptar pra que se possa ser.
Prioridades nas obrigações pra que se possa programar.
Escolhas cotidianas pra que seja possível se encontrar.

Se encontrar.
Encontrar-se.
Reflexivo.

E... até que se faz 30.
E a maturidade bate à porta.
E pede escolhas pessoais.
Emocionais.
Filosóficas.
Práticas.

E bota em xeque toda uma vida. Três, no caso.

Pois bem.
Eu já vinha neste processo, daqui, dos meus já 33 -olhaê o número sagrado, Minha Gente!!
E recebi docemente Giselle, nestes 31. Nas dúvidas, anseios, mudanças e tudo aquilo que acontece neste marco que sim... é quase cósmico.
E agora, juntas, a gente dá as mãos à Carolina: na iminência dos 30.

É simbólico.
É simbiótico, talvez.

Talvez não seja por acaso que π [pi] valha 3,1416 e não 'outro número',1416...
Dizem que o símbolo do Infinito é um 8. Pode ser, mas depende do 'olho de quem vê': talvez eu prefira acreditar que são dois números 3, olhando um para o outro.
Talvez também não seja por acaso que a Proporção Áurea esteja sempre balizada por triângulos: são 3 os seus lados.
Alguns estudos afirmam que Cristo morreu aos 33 anos.
São 3 os princípios maçônicos: liberdade, fraternidade e igualdade.
Brahma, Shiva e Visnhu compõem a divina trindade Hindu.
No Egito, a trindade é composta por Hórus, Ísis e Ósiris.
Na Cabala: Kether, Chokmah e Binah.
As famílias são feitas de pai, mãe, filho.
As etapas alquímicas: 'nigredo' -a fase 'negra', de ignorância e necessidade de renovação: a morte espiritual-; 'albedo' -a fase 'alba', da tomada de consciência: a purificação-; e 'rubedo' -a fase 'rubra', do estabelecimento da consciência definitiva: a iluminação.
No Tarô, o Arcano Maior simbolizado pelo #3 é a Imperatriz: quando surge num jogo, indica que nova fase está prestes a começar. E quase sempre, ligada ao campo terreno: uma criança, um novo emprego, um casamento. É a libertação e liberação da criatividade instintiva. É a Grande Mãe -a Terra- abençoando vidas.

E... interessantíssimo: na mitologia grega, as Moiras eram 3 irmãs que detinham o poder dos fios condutores da Vida, decidindo os destinos de mortais e imortais. Pra tanto, elas utilizavam a Roda da Fortuna -alá a sorte de novo!- pra tecer os tais fios.

Láquesis, Cloto, Átropos: nesta ordem.
Cloto ['fiar' em grego] era responsável por tecer o fio.
Láquesis ['sortear' em grego] puxava e enrolava o fio.
Átropos ['afastar' em grego] tinha a incumbência de cortar o fio.

São quase sempre representadas por figuras lúgubres, num semblante sombrio, fazendo jus ao pesado ofício.

Corpo. Amor. Tecer.
Mente. Fé. Fiar.
Espírito. Esperança. Afastar.

O Amor que tece, dando corpo aos sentimentos nobres, à força motriz do Id.
A Fé fiada numa mente centrada, catalizando coisas de maneira racional, sem perder iluminação no processo do Superego.
A Esperança tirada da Caixa de Pandora quando do enfrentamento do Ego, transcendendo rupturas.

Acho mesmo que esta definição nos resume: disto é composto nosso tripé.
Da melhor e mais abrangente maneira possível.


O Três.
Que define tanta coisa.

O Três, que de repente nos faz olhar caleidoscopicamente uma à outra.
E nesta relação espelhada, a gente entende o movimento do mundo.
Dum mundo paralelo muito nosso.
Individual e coletivamente.

Vidas paralelas.
Existências inexatas pela simples escolha de ser mutante.

"Você precisa de terapia."

Eu já faço. E ouvi isto por uma vida de algumas pessoas, como se definir tempo fosse direito e dever de quem quer que fosse/seja extra mim.
Giselle ouviu isso a caminho do já escolhido divã.
Carolina foi hoje rotulada a. Como se isto já não fosse premissa.

Daqui dos meus já 33... acho mesmo é que O Mundo precisa de terapia.

Porque gente inteira se admite e se autoanalisa.
E... na impossibilidade de dar conta, abre o catálogo do Convênio Médico e busca um profissional gabaritado a.

Daqui dos 'Quase 30', a gente se vê muito preocupada em ser melhor.
Em vigiar melhor.
Em adaptar melhor.
Em consumir melhor.
Em Amar melhor.
Em chorar pelo melhor.
Em acreditar no melhor.
Em Viver melhor.

E que bom que neste elo triangular a gente se aparta nas diferenças usando as semelhanças: Amor, Parceria & Caráter.

Infelizmente, O Mundo tá repleto de Miséria Emocional.
E talvez a tríade que a permeie esta 'falta de' seja composta por Descrença, Arrogância & Ganância.

Miséria.
Fome.
Sede.
Frio.

Fome de quê?
Sede de quê?
Frio em quem?

A primeira manifestação da Japa Íntegra comigo foi o mais honesto abraço corporativo que já recebi.
A primeira manifestação da Mangázinho comigo foi o olhar mais desarmado que já pude conhecer em ambiente de trabalho.

Dizem que a gente é o quê a gente come.
E eu descobri que... banquete mesmo é aquele que mata fome emocional.
E vou dizer: eu adoro comida japonesa.

É Amor de Oriente.
Sereno.
Paciente.
Constante.

É Amor Dharma que segura Efeito Karma.

Que sorte a nossa.
E nem foi preciso a quarta folha no trevo...




segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Elos elásticos.

Talvez os relacionamentos -Amor, Amigo, Família- sejam interligados por uma espécie de Fio elástico invisível, mas que tá ali.

A elasticidade talvez seja aquilo que permita pessoas irem e voltarem.
O quê significa que o elo pode ser lindo, mas mesmo que se amarre com o melhor dos cetins: só vai funcionar se tiver elastano.

Dependendo da tensão, o tal fio vai durar mais ou menos.

Algumas vezes, podem se partir em dois, ou em três. Ou mais. E ainda assim, permitirem emenda: vai depender da folga entre um corte e outro.

Por outras vezes, a tensão é tão grande que acaba puindo. Até que, numa destas tensões, dependendo da fisgada no fio, ele se desfaz pra não mais.

Há ainda fios sem tensão alguma, e sendo assim: não há pontos. Não tem costura que se faça sem tensão. Fica tudo embolado e você acaba tendo que tirar dali a linha.

E há fios e fios. E tantas vezes, você oferta teu melhor fio. O mais bonito. Aquele que você usa pra fiar as coisas pra si mesmo.
E... ao invés de um bordado, os elos o usam pra cerzir...
E tudo bem, já que qualquer tipo de oferta só vai ser validada se puder cumprir com a demanda: teu pano tá esgarçandinho? Tó: usa esse meu fio aqui e remenda.

O quê me incomoda é quando o teu melhor fio serve SÓ de remenda.

Já usaram calça cerzida?
O pano perde a flexibilidade.
Fica endurecido, pouco se moldando no corpo.
E mais: te amarra, fica meio pesado.

Não dá pra viver de remendo.
Não dá pra passar a vida remendando vidas.

Excessos nunca são benvindos.

E quando, de repente, você se dá conta do tamanho da amarra que criou, talvez seja a hora de procurar nas gavetas aquilo que, se a gente não souber manusear, se fere:


A Tesoura.



terça-feira, 1 de outubro de 2013

Eu já tive 16.

Eu já tive 16.
Eu queria sair de SP, aprender inglês ou francês e morar no Canadá. Eu deveria saber que seria longe, eu estaria sozinha, sem família por perto.
Eu já tive 16.
Eu batia as portas da casa a cada vez que me impediam de Ser. E hoje, sonho com filhos adolescentes que destemidamente batam a porta na minha cara, pra me provar que o Mundo não os impedirá.
Eu já tive 16.
Eu não queria casar. Achava todo e qualquer tipo de rédea a coisa mais fora de propósito na vida humana. Ouvia que um dia eu quereria ter pra onde e quem voltar.
Eu já tive 16.
Eu voltava das festinhas na USP com os amigos -que se drogavam na minha frente e eu, sempre careta, deixava o cara Ser, sem rotular- à pé. Algumas vezes, voltava mais de meia noite, quando os encontros eram mais próximos da minha casa, sozinha. Não deveria, já que era perigoso e alguém poderia me abordar no escadão de acesso à minha rua.
Eu já tive 16.
Eu achava que a vida pra quem era ignorante era um profundo tédio e, por isso, me via diferente e achava que o mundo seria meu a partir do momento do meu nome e RG estando contidos na lista da Fuvest. E me diziam que o mercado de trabalho e os elos sociais não eram tão simples assim.
Eu já tive 16.
E nesta época, eu bem pouco temia.
E mesmo do escuro: eu me livrava dele olhando profunda e minuciosamente tudo o quê ali poderia existir, naquele mundo oculto de penumbra. 
Não é novidade pra ninguém o tal terceiro olho que me acompanha e que, hoje, eu domino.
Mas ali, naqueles 16 anos, eu me sentia gigante porque saber que temia o escuro e ainda assim o encarava.
Hoje eu moro só e lido com isso bem demais.
Primeiro porque não há solidão total depois da Internet: meus Amigos estão todos aqui e, tantas vezes, eu não quero tirar o roupão pra coabitar com.
Hoje, temos ainda o advento do 'spertophone', e isso sim é a glória: mensagens picantes na calada da noite pra apartar saudade, bom dia desarvorado pela manhã de amigo em apuro, um pedido de socorro e 'venha até aqui' num fim de tarde: todos me acham quando querem. E eu a eles.
Há o agravante de ser filha única, primeira neta, primeira sobrinha, ter trabalhado por anos a fio numa biblioteca. Tantas vezes, meus amigos que me vêem no oba-oba, passam dias ao meu lado e perguntam: "o quê você tem?".
Nada. 
O silêncio e a solidão me compõem. E hoje, de maneira saudável: eu preciso deles.
Hoje eu não bato portas.
Fico me perguntando quem existe do outro lado. E me pergunto porque do lado de cá eu precisaria bater portas pra Ser. E me sinto tolhida por tudo isso. Acho mesmo que o tacape é meu companheiro e adestrá-lo é das coisas mais dolorosas pra mim. E quase sempre, não sei como agir com meus instintos primitivos. E que são absurdamente aflorados. Fazer o quê pra segurar a natureza?
Nada.
O 'ser social' significa coabitar dentro do politicamente correto, no fim das contas. E infelizmente.
Hoje eu já carrego um histórico de casamento e descasamento. Alguns relacionamentos. E tudo o quê mais faço na vida é criar laços duradouros, que me prendem e seguram nas minhas próprias emoções. Não me refiro propriamente a Amores passados e só. Eu me refiro aos Amigos presentes e à Minha Família, que pode ter todos os defeitos do mundo, mas é de onde eu vim. É ali que tudo começa. Eu sempre tenho pra quem voltar. E pior: eu sempre tenho por quem nunca ir. Como fazer pra lidar com isso?
Nada.
Individualidade não caracteriza falta de laço.
Hoje, eu, que não rotulava, passei a ter de fazer pra entender e categorizar. E lido todos os dias com os milhares de rótulos que me são impostos.
Eu temo o farol no cruzamento. Temo o bêbado dirigindo às sextas feiras. Temo a violência urbana. E eu temo pelos que vigio e zelo, pra ainda mais agravar o quadro. O Meu Amor é de Vigília. Eu guardo. Eu poupo. Eu pondero. Eu sou matriarca no melhor e no pior da palavra. Hoje eu temo. E o quê se há de fazer pra destemer?
Nada.
Viver é um triz e temer é processo.
Hoje sou formada pela melhor Universidade da América Latina, falo fluentemente uma segunda língua, arrasto noutras, tenho conhecimento de usuário profissa em informática e moderado em outras tecnologias, sou articulada, falo de múltiplos assuntos, tenho uma boa teia de relacionamentos, gosto de gente, mas... o meu maior e melhor conhecimento aleatório é em psicologia, justamente pra poder dar conta do tamanho do angu. E como e o quê fazer pra ser capaz de se sentir seguro no mundo prático?
Nada.
Não existe segurança naquilo que é mutante.
Hoje eu continuo a enfrentar escuros.
Os próprios.
E dentro deles, cabe a aproximação entre iguais.
Eu ainda quero entender porque a gente tem tanto medo de SER FELIZ.
Eu ainda vou achar o meu caminho pra driblar isso.
E vou conseguir dar a mão pra quem também não achar o próprio.
É curioso, mas talvez valha dizer que tenho ouvido recentemente, e repetidas vezes de alguém importante pra mim que... eu sou 'cuzona'.
É.
Eu sou, confesso.
Sob alguns aspectos: sou.
E observando daqui: este alguém não é muito diferente. Há ali também um quê -bem demarcado, tanto quanto em mim, diga-se de passagem- de 'cuzão'.
Olho pro lado e vejo que a maioria dos Meus Grandes Amigos, os Meus Irmãos de Alma, estão com os mesmos medos que eu.
Por vezes, as nuances mudam.
Outras, são idênticas.
... "como uma segunda pele, um calo, uma casca, uma cápsula protetora"...
Eu ainda vou descobrir -em mim e no outro- em quê momento a gente permite que a porta batida vire o muro eletivo. Ou que o medo do assalto nos impeça de ir.
O meu mundo é uma enorme 'Cuzoneland'.
E daqui, do meu temeroso escuro, o meu maior medo é de que a gente se permita nunca ser capaz de voltar a ter 16 anos.
Eu.
E todos os Meus Cuzões.
Amor.
Amigos.
Família.