sexta-feira, 30 de novembro de 2018

A Grande História não contada.

E de setembro é novembro. O tempo sempre voa.
Foi dezembro dum agosto. A continuidade do tempo nunca é linear.

Uma chuva de verão de julho nas cercanias da alma. E nestas, nada é passageiro. Se mantém.

Foi braço para quebrar ossos do ofício. Como assim, esse cara já quer meu telefone?

Foi leitura de livro em beira de piscina com convite recusado. Sem chance. Sem condições. Que será que pensa que eu sou?

Foi despertador fora de hora em madrugada alta. Droga. Deixei de novo o notebook aberto. Esse cara não se toca? Tá bêbado. Certeza. Sou obrigada? Não tenho a menor paciência.

Foi primeiro bom dia em noite regada à bebida, das que findam com o sol no vidro do carro. É inacreditável. Pode ser a hora que for... Será que me procura mesmo? Ou será que só me acha? Tá voltando da noite também. Certeza.

Foi trânsito carregado na volta do trabalho, em horas de conexão. O que acontece com esse cara? Que tanto gosta de conversar comigo? É carência? 

Foi telefonema atendido em hora não favorável. Não acredito. Eu não acredito que ele tá me ligando agora. Cara. Olha a cara do... Ele sabe que eu to com o... tá. Ok. Pensa rápido. Ok. Vou atender.

Foi gargalhada dada a propostas totalmente recusáveis. Ele não desiste? Que mané ligar só pra ouvir minha voz... conta outra! É muita cara de pau...

Foi notícia boa em primeira mão. É muito curioso. Eu nunca vou entender direito por que divide quase tudo em tempo real...

Foi tempo de mudança de vida e solidão conectadas. Às vezes, esse cara me tranquiliza... não consigo entender por que perde tanto tempo comigo de longe... e não sei também porque me preocupo tanto: a gente briga o tempo inteiro! Ele é irritante!

Foi parceria e espanto numa dor de perda do que não nasceu. Não acredito. Ele também perdeu um filho. Como pode? Eu e ele? Ao mesmo tempo? Qual a probabilidade disso? 

Foi realidade totalmente reprovável avaliada com sucesso. Eu não to acreditando que esse cara tá me chamando pra morar com ele lá na casa do caralho. É maluco. Nunca nem me viu. Pega nada. Daqui a pouco tá noutra... mas... que é engraçado, é! Será?

Foi insistência em cruzar vidas a todo custo. Quer saber? Eu vou. Desta vez, eu vou. Não aguento mais brigar com o... não tenho nada a perder... vou.

Foi convocação de voo perdido e reencontrado. Não acredito que to aqui. Acho que já me arrependi.

Foi conversa que tateia chão de estacionamento. O que, afinal, eu to fazendo aqui?

Foi o contar de histórias, evitando a cruzada de olho. Não há escapatória. Ele vai deitar do meu lado.

Foi o oferecer-se a dividir cama de solteiro. E agora? Não esperava por essa.

Foi fim de tarde num gramado da Cidade Concreta. Abraço? Finjo que presto atenção na música? Nossa. Ele tá muito perto. A gente tá muito perto. Não sei o que fazer. Não quero um romance. 

Foi lembrança furtiva entre uma garfada e outra num comercial entre amigos no Largo do Café. Putz. Olha só o que tá tocando no bar ali do lado, cara... Foto. - Veja. Olha só onde eu tô. Lembrei de você.

Foi cobertor sendo tecido fio a fio. Acho que não tem nada na minha vida que esse cara não saiba.

Foi saudade a ser morta no susto. Comprei. Agora vou. Sei lá no que vai dar...

Foi olhar distante, mirando o horizonte da Ilha dos Búfalos. Por que raios, afinal, ele não veio conhecer isso aqui comigo? Por que ficou no quarto?

Foi voltar pra casa em silêncio. A gente nunca mais vai se ver. Talvez seja melhor assim.

Foi o calmante do choro na perda de um amigo felino. Acabou de morrer no meu colo. A gente não tá se falando. Como adivinhou que ele acabou de morrer no meu colo?

Foi bota, echarpe e casaco de couro rosa despidos na garoa fina da Cidade Cinza. Eu tinha saudade, mas vou continuar olhando com a naturalidade de um não fosse. E fingir que não percebo ele me seguir com os olhos.

Foi estrada na noite gelada que acabou em sopé de serra. Nunca entendi a falta de multas na minha pressa.

Foi mensagem de celular não esperada em madrugada eletrônica. Ele nunca me mandaria mensagem agora. Como ele sabe que eu to chorando? Como ele sabe que a gente brigou? "Fica calma. E me avisa quando chegar em casa." Ele me ganha. A todo momento, ele me ganha. É ele quem me ganha aqui dentro enquanto o outro me perde todo dia um pouco mais.

Foi a manutenção de elo com o umbigo do mundo quando a parede de tijolos caiu. Preciso reinstalar esse Whatsapp. Não dá pra fugir do mundo pra sempre e... tem ele. Sinto falta dele.

Foi calmaria na tormenta do lado de dentro. Quando eu acho que vou enlouquecer... ele vem. Ainda bem.

Foi chuveiro gelado por três dias a fio no fim do mapa. Eu não acredito nisso. Eu não acredito que ele fez isso comigo justo agora.

Foi afastamento eterno até enquanto durou os estoques. Tudo bem. Não dá pra não falar mais, mas já não dá mais. Vai doer, mas daqui eu não passo. Não consigo. E tem a vida que não conheço chutando minha janela. 

Foi pedido de retratação peculiar, com direito à reposição de perdas. Ele sabe que me magoou. A gente se deve isso. Vai ser bom passar esses dias com ele. 

Foi falha emocional no meio do caminho. Eu não acredito que fiz isso. Eu magoei ele. Que diferença isso fez na minha vida? Eu não to acreditando... pra que isso?

Foi choro miúdo num peito doído e a certeza de nunca mais. Acho que desta vez a gente não se vê mais. A gente se magoou demais... tudo bem. Eu toco meu barco e ele o dele. Vai ser melhor assim. Acho que foi nosso último abraço.

Foi brincadeira sorrateira do destino. Não é possível. Morando na mesma cidade? Pra quê? Por quê? Eu não to acreditando. Tá, mas... ok. Não muda nada. Amigos. 

Foi jantar de boas-vindas na praia mais praia do mundo. É bom tá com ele. Admiro tanto... foi bom ter vindo. To feliz por ele. To feliz que tá aqui, inclusive. 

Foi cantina com música seguida de pastel chinês na Terra da Felicidade. Sabe que eu adoro a companhia dele?

Foi a capa de chuva em barco de proa furada. Ele veio só pra me proteger. Não é possível. Não faz o menor sentido ele ter vindo da casa do caralho pra cá pra dar de cara com toda essa merda e me proteger. 

Foi o abraço de despedida rumo à recuperação do sistema. Putz. Que merda. Que bom, mas que merda. De novo... me bagunçou de novo. Ok. Na volta eu resolvo.

Foi a resiliência nas resoluções. Eu não minto pra ele. 

Foi a viagem desde sempre no roteiro. Ele é foda. Sabe que vou.

Fui.
Vou porque vem.

E talvez isto seja o real significado de Amar.
Ele é meu aprendizado constante.
É a maneira mais concreta que a Vida me dá para aprender e ofertar o Desapego.
Ainda que eu morra de ciúme... dá e passa.
Acho que deve ser parecido do lado de lá.

É encontro e reencontro pelos atropelos da vida justamente porque existe o ir.

Pode ser que um dia a gente vá e não volte.
Ou não. Quem sabe?

Sei que em meio a estudos, livros e letras, vazou isto aqui.
Vazou a História.
Vazou parte da História.

Talvez seja esta a Nossa História.

A Grande História de Amor não contada.