quarta-feira, 13 de julho de 2016

Por fim. [O circunflexo a gosto do freguês.]



Minha Avó adorava este terço.




Trouxe de Aparecida do Norte quando resolvi conhecer a Basílica.
Cheguei a procurar um igual em outras igrejas de outros lugares que visitei, mas sem sucesso.
Era justamente um 12 de outubro, dia da Santa, e no ano em que descobri o câncer de tireoide.

Nunca vou entender muito bem por que quis ir àquela Basílica.

Hoje, há poucos minutos, cogitei que talvez tenha sido pra achar esta peça.

É curioso, mas... este terço já se arrebentou algumas vezes.
E, inacreditavelmente, em todas elas consegui achar as dez bolotas que vão entre uma medalha e outra.

Aconteceu já de arrebentar mais de três vezes num único mês.

Chegou a estourar debaixo do chuveiro, no meio do banho e... contei dez bolinhas e remontei.

É estranho admitir, mas... presto singular atenção a alguns sinais repetitivos.

Eu tirava a roupa no momento do estouro da corda.
E eu vinha num raciocínio desencadeado sobre finais.
Seria inacreditável se não fosse eu comigo.

Hoje à tarde, ouvia um desabafo de preocupação.
Uma das minhas Melhores Amigas [não por acaso, uma das mesmas que me levaram à Aparecida] tá apreensiva com sua 'cã' e todo o processo de tratamento do 'serumaninho': metástase e a certeza de que o que quer que se faça será contenção de dano e dor.
Não há muito o que ser dito num momento de perda pré-anunciada, mas a certeza de que o silêncio me é tantas vezes agressivo, me leva a querer ofertar algum conforto ou compreensão...
Alguém que divide comigo alguma coisa que incomoda, na minha cabeça, espera -nem que mínimo- algum esboço de reação.
Me coube dizer "ela tá velhinha e doentinha... uma hora acontecerá..." num tom doce, mas meio que indicando o caminho do inevitável.
Disse isso e fiquei me questionando se não havia sido fria, ou objetiva demais, até inútil mesmo... 
Não há muito sucesso no discurso, mas também não há muito contra argumento.

E me lembrei da minha Avó. E também do meu Pai.
E pensei sobre amigos que já não tenho e sobre relacionamentos acabados e familiares que não vejo.
E em ciclos que findam e minha maneira de lidar com isso e me questionei se não estou me tornando uma pedra seca e rígida no que tange finais e... não achei resposta.

Quanto mais tempo se vive, mais laços são feitos e, automaticamente, a matemática traz maior probabilidade de laços desfeitos também.
Há também o fator 'idade', que vai nos levando os dias e pessoas, estreitando a frequência das perdas.
Há aquilo que a gente chama de 'maturidade' na hora de redefinir histórias, mas que é, tantas vezes, só a maneira que a gente tem de passar a perna na definição daquilo que nos deveria ser cotidiano: resiliência. A gente sabe que vai dar ruim e insiste. Daí vê que não vai mesmo rolar e banca de 'maduro'... maior mentira. 

Lembrei de tanta coisa que começou e não foi, de tantos relacionamentos que morreram na praia, de tantas situações inacabadas e emocionalmente amadoras, de gente que não mergulha, gente que teme o vento do mar, não colocando o pé sequer na areia, imagine na água... daí fiquei pensando no tanto de coisa que muda o tempo todo na vida das pessoas e o quanto elas esperam pôr fim naquilo que as desagrada e que, tantas vezes, eu assisto de perto não só as minhas mudanças, mas também...

... o terço estourou.

Eu pensava sobre o final de um relacionamento.
Que não é meu.

Observei, ao longo desse tempo de 'arrebentação de terço', que sempre que acontece, curiosamente, vem uma sequência de ciclos se fechando e outros se abrindo.
Às vezes, muito seguidinhos uns dos outros já que, às vezes, os estouros são mesmo muito seguidinhos uns dos outros...
Acho que to tentando ficar convencida de que há uma linguagem nesses episódios de caça às bolinhas...

Não me lembro qual foi a última vez que meu terço arrebentou.
Significa que já faz tempo... muito mais de ano, talvez.
Não sei dizer.

Eu só sei que achei as dez bolinhas.
E que ele, mais uma vez, foi remontado e, por fim, já se encontra em volta do meu pescoço.


Não sei definir de maneira assertiva essa coisa divinatória em base 10, mas...

... fico no aguardo.

Por ora.