quinta-feira, 27 de junho de 2013

Pulsão de vida e morte.

Tem horas em que eu piro.
Piro na psicologização da espécie. Claro.

Tava aqui pensando sobre luto.
Li em algum lugar que o luto é necessário.

Que o luto é necessário pra tranquilizar a dor.

Algumas pessoas precisam passar por rituais: ver o caixão descer, segurar a mão de quem vai pela última vez, estar no velório... e por aí vai. Os rituais facilitam nossas transições, tantas vezes.
Mas... como proceder quando o luto é eletivo?
Quando decide-se matar um vivo ou quando morre-se pra alguém?

A resposta talvez seja simples.
E a gente talvez prefira complicar. Acho.

Há aí estudos que dizem que o luto aceitável varia de seis a nove meses.
E que a partir disso, estaria então configurado o quê a psicanálise chama de 'luto patológico'.

O luto patológico é definido, basicamente, como um sentimento que não se vai.
De qualquer modo, me parece que o principal ponto é: não se vai porque não permitimos que.

E o motivo... chega a ser irônico -sob a minha ótica, claro-. mas...
... o motivo... o grande motivo é...

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".

Eu riria.
Não fizesse -pra mim- tanto sentido...

O 'cativar' aí tem duas acepções.

A primeira: 'cativar' como 'ser responsável por'.
Mais ou menos como pais que perdem seus filhos ainda bebês e que acham sempre que poderiam ter evitado que assim fosse.
É um 'cativar' de admitir culpa só pra si. É um 'cativar' que acha pouco o quê se viveu. Insuficiente. Aquém. Sofre-se pelo quê poderia ser.
Em geral, a gente sofre em qualquer tipo de perda.
Mas absolutamente tudo o quê se vive a contento, tudo o quê é plenamente aproveitado, não deixa sequelas, não deixa remorso. Não deixa lacuna.

E a pergunta é: a lacuna... essa que incomoda... incomodaria também se... 'tudo estivesse vivo'? *grilos no silêncio*

A segunda: 'cativar' como 'cativeiro'.
Sobremaneira pra si mesmo. Cativeiro imagético.
Mais ou menos como quando recém casados perdem seu par abruptamente. Quem sobra, quase sempre irá viver da imagem projetada. Também -como na primeira situação- sofre-se pelo quê poderia ser. Mas é um 'poderia ser' plantado ali. Pega-se um trejeito, uma lembrança, uma virtude e... potencializa-se aquilo, como numa fantasia. Uma quase psicose.

E a pergunta é: a fantasia... essa que enleva... enlevaria também se... 'tudo estivesse vivo'? *grilos no silêncio*

Lacuna.
Fantasia.
Será que é disso que se precisa viver?

Talvez a resposta pra isso esteja em humanizar.
Tudo e todos e o tempo todo.

No 'cativar' como 'responsabilidade', o 'humanizar' é seu.
No 'cativar' como 'cativeiro', o 'humanizar' é do outro.

Tirar de si a responsabilidade pelo 'fracasso' ou 'sucesso' talvez seja o primeiro passo pra que se consiga deixar ir. Se destituir do posto de 'pai/mãe da situação' não só te permite errar, como também te desobriga.
Quão ruim é ter de fazer acontecer, não? Desejando o quê não é...

Tirar o outro do cativeiro imagético talvez seja -por sua vez- o primeiro passo pra que se consiga... ir.
Destituir o outro do posto de 'projeção de desejos' não só permite o outro a errar, como também o desobriga.
Quão ruim é ter de coabitar com o irreal, não? Desejando o impossível de ser...

E o humanizar tem de passar pela destituição.
É preciso sim sentir raiva.
É preciso sim atribuir valor.
É preciso sim configurar realidade, admitindo virtudes, defeitos, qualidades, desqualificações.
E não pra dar nota de zero a dez.
Mas pra permitir que... se possa dar a César o quê é de César.
Nem mais.
Nem menos.

Coisas são o quê são.
Pessoas são o quê são.
Projetar imagens, moldar pessoas, desejar morar no irreal, se adjetivar sem ser... não dá.

Talvez... talvez a gente tenha mesmo é dificuldade -no caso da 'morte-viva'- de abrir mão da nossa própria expectativa.
Que pode até mudar conforme o momento, a idade, o histórico.
Mas uma coisa não muda nunca em relação a ela: nossa necessidade de saciedade.

Saciedade é fome.
Fome de quê?
O quê você come?
O quê te alimenta?

Que seja qualquer coisa.
Menos cadáveres emocionais.

Talvez nos falte entender que Vida e Morte caminham juntas.
Talvez nos falte aceitar que assim como há a Pulsão de Vida, que move nossas 'fomes', há também a Pulsão de Morte, que possibilita nossos 'dejetos'.

Eros e Tantatos.
Perséfone e Hades.
Bem e Mal.


Conceitos todos arbitrários: depende de repertório individual.
Mas independente disso, começos pressupõem finais.
Ainda que não se esteja preparado.

Se a gente pensar que o tal luto saudável dura de seis a nove meses e que este -por coincidência?- é o mesmo tempo minimamente necessário pra maturação de um feto... talvez consigamos entender este movimento.
Esta ideia de que a vida tá emendada na morte e a morte tá emendada na vida.

E que coisas findam pra que outras comecem.
E que no fim da linha sempre há alguma outra coisa.
E é com esta nova coisa que a gente passa a trabalhar a partir dali.

E onde era 'perdeu, Playboy!'...

... passa a ser 'venceu, Herói!'.

:)

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