sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Lacre fisiológico.

Era uma vez que um dos filhos da filha da minha Avó -o mais velho, mas sete anos mais novo que eu- aprontou sabe lá o que e era eu "tomando conta".

Daí que deu caca -não me lembro se caiu ou X- e deu ruim pro meu lado: veio a Maria Bonita comendo vento na minha direção.

Sempre fui de debater quando me senti injustiçada. Ali, não foi diferente. E ali eu ainda acreditava que berrar mais alto faria diferença. E assim foi. E falei um monte. E aí o que foi sem querer, virou pessoal. E aí que ela era a mais velha da discussão: tinha razão só por existir. E eu, a mais argumentativa. [Sim: uma criança custosa e não dúctil pra quem se recusava. Pudera, inclusive.]

Na falta de competência em me retrucar, lá foi cascudo: sempre a amei muito, mas ela nunca foi fácil. Tampouco paciente.

Levei. Pelo tombo do garoto -acho que foi isso, não lembro...-, por revidar no discurso -»criança« tem de calar a boca- e por urrar -quem gritava ali era ela e mais ninguém, segundo a própria-.

Lembro que me encolhi na fresta entre o guarda-roupas e a parede. E chorei. E chorei miúdo. Muito. Horas.

Achei que não merecia a culpa por uma inabilidade que não era minha: sempre levantei a mão e disse "fui eu quem fez a caca" quando na minha vez.

Doeu, viu? Nem sei mensurar.

E, às vezes, o mundo será isso sem de que em muitas instâncias.

Severidade gratuita, essa coisa.

Ali porque ela tinha mais idade, talvez.
Ou por representar o poder da casa.
Ou porque, bradando, perdi totalmente o direito a ser ouvida.

A real é que quem grita quase sempre representa o desequilíbrio.

Ainda que o "senta lá Cláudia" seja cruel.
Ainda que o "cala boca senão te bato" seja opressor.
Ainda que "que".

Tem hora que esqueço a lição.

Noutras eu lembro.
E é bem nessa hora que desço do caixote do discurso, guardo o microfone e a viola dentro do saco.

Afinal de contas, O Comedimento sempre tem a prerrogativa da fama da sanidade.

A Argumentação, não.

Ela cumpre bem seu papel, coitada... sacode zona de conforto, tenta entendimento, busca alternativa... mas é barulhenta. E descompensada. E descompassada.

Coitada e calada, de preferência.

- PFVorzinho, amém?
- Amém. -disse a »criança« inconsequente a ser regrada na falta de voz.






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